Embora não sejam os comandantes dos navios, os Práticos são os profissionais que de fato conduzem as grandes embarcações nas zonas portuárias em que trabalham. São eles os especialistas na navegação realizada em águas restritas, nas proximidades de todo tipo de perigos, e nas manobras de atracação e desatracação. Como forma de depreciar a categoria, o apelido de “flanelinha de navio” foi bastante difundido faz alguns anos. O termo pode ter surgido de forma pejorativa, mas a polêmica acabou criando um efeito benéfico para a Praticagem ao longo do tempo: hoje, certamente sabe-se mais sobre o trabalho dos Práticos do que antes da invenção do apelido maldoso, quando a maior parte da população sequer sabia da existência desses profissionais e não conhecia as suas responsabilidades.
A expressão foi amplamente difundida por volta de 2012, por ocasião de uma tentativa de grupos de armadores – interessados na extinção ou no enfraquecimento da independência dos Práticos – de difamar a Praticagem. Com o tempo, a ferida se fechou, e tanto os Práticos como outros profissionais que, de alguma forma, atuam em conjunto com a Praticagem, aprenderam a explicar a importância do serviço. Os “flanelinhas de navios”, sabe-se hoje, não estão ali só para evitar o “arranhão” no navio, mas para prevenir que as embarcações causem danos ambientais, prejuízos materiais e paralisação das atividades nos portos. Uma manobra pode envolver até alguns bilhões de reais, se considerados a carga, a embarcação, o risco ambiental e os danos econômicos a que se está sujeito no caso de uma manobra mal executada.
Apesar de não ser possível aferir com 100% de precisão de onde vem a ideia de que o Prático é, na verdade, um “flanelinha de navio”, a composição do conceito deturpado entrega algumas pistas. O serviço de “flanelinha” é associado a algo irregular, não confiável, sem qualquer especialização e, principalmente, barato. Associar os Práticos aos guardadores de rua seria como dizer que eles devem trabalhar por valores muito baixos, irrisórios até. Esse é, exatamente, o objetivo de grandes grupos econômicos, capitaneados por armadores estrangeiros, que tentam enfraquecer a Praticagem, exercer maior controle sobre os portos e, ao mesmo tempo, gastar muito pouco com as manobras.
O “flanelinha de navio” nas nações desenvolvidas
A Praticagem no Brasil é independente – e o mesmo ocorre nas principais economias do mundo, em países como Estados Unidos, Alemanha e Canadá, entre outros. Isso significa que os Práticos têm compromisso apenas com a segurança da navegação, a preservação do meio ambiente e o bom funcionamento das atividades nas chamadas Zonas de Praticagem. O Prático, portanto, não é “empregado” do armador, da empresa que contratou o transporte ou de algum interessado em auferir lucro ou interferir nos portos.
Assim como a ideia de que o serviço de praticagem é exercido por “flanelinhas de navio”, o mito de que a atividade tem custo alto no Brasil é facilmente desconstruído com argumentos. Os custos do serviço aqui estão em linha com o que é praticado nos portos do mundo onde essa atividade é exercida de forma séria e isenta: ele representa cerca de apenas 0,6% do custo do transporte marítimo. Fica claro que mesmo um corte brusco de 50% no preço dos serviços de praticagem não impactaria os preços cobrados dos embarcadores das mercadorias, ainda que os armadores decidissem repassa-lo integralmente (o que também não parece ser o caso). Este fato derruba de pronto outra falácia, dos mesmos autores, que esteve na moda nos últimos anos: a de que os “flanelinhas de navio” contribuem para a elevação do chamado “custo Brasil”. Nonsense.
“Flanelinha de navio”: como se tornar um
A Marinha do Brasil, que regula a Praticagem, abre periodicamente processos seletivos para Práticos, com total publicidade e transparência. Qualquer pessoa com mais de 18 anos e que tenha concluído curso superior em qualquer área pode inscrever-se. Basta preparar-se.
2 respostas
Boa tarde. Queria entender qual é a estabilidade garantida na profissão? Qual é a probabilidade de após aprovado no concurso, o praticante ser demitido ou não se formar prático? Ainda assim, após já nomeado prático, qual são as chances de ser exonerado?
O Prático não é funcionário público ou privado, portanto não pode ser demitido ou exonerado. Teoricamente, em casos muito raros ele pode perder a sua habilitação se, por exemplo, estiver envolvido em um acidente em que tenha uma culpa inescusável. Mas nunca ouvimos falar de casos assim.