Praticagem Independente e a Preservação do Meio Ambiente
Treinados para comandar as manobras das embarcações que atracam e desatracam nos portos brasileiros, os Práticos de Navios são também os guardiães do meio ambiente. São eles que garantem que a vida marinha nas vias navegáveis dos portos brasileiros seja preservada. Entre os fatores que fazem do Prático um grande aliado do meio ambiente está a sua total independência daqueles que os contratam, ou seja, dos armadores ou seus representantes.
No Brasil, como nos principais países desenvolvidos, a legislação permite aos profissionais da praticagem recomendar à Autoridade Marítima (normalmente o Capitão dos Portos) que uma manobra deixe de ser realizada, sempre que a julgar inapropriada ou desnecessariamente arriscada. O compromisso do Prático é unicamente com a segurança da navegação e a preservação do meio ambiente no interior da sua ZP (zona de praticagem), que jamais se sobrepõe ao interesse econômico daqueles que exploram a atividade de transporte marítimo.
Um Prático Conhece e Protege sua Zona de Praticagem
O conhecimento local é um diferencial dos Práticos de Navio no Brasil. Uma vez aprovado em um processo seletivo público, organizado pela Marinha, e após um período atuando como Praticante de Prático, o profissional é designado para uma das 23 ZP em que se divide o litoral brasileiro. E é nessa região portuária que o Prático vai atuar por toda a sua vida na profissão (para mudar, ele precisa passar novamente no processo). Este formato de carreira assegura que, entre outros conhecimentos específicos, o Prático detenha informações aprofundadas e esteja sempre atualizado sobre as variáveis locais que tenham implicações para a segurança da navegação e, por conseguinte, para o meio ambiente.
“O Prático conhece detalhadamente as correntes de maré, as profundidades, os ventos predominantes, os pontos proeminentes (naturais ou não), que auxiliam ou atrapalham a navegação em sua ZP. Esse aprendizado começa quando ele ainda é Praticante de Prático, período de experiência que dura aproximadamente um ano, logo que é designado para sua ZP”, explica Hercules Lima, fundador do Curso H e Prático em Vitória, no Espírito Santo. “Com o passar do tempo, a tendência é que ele conheça cada vez mais a sua ZP. Tanto que, se quiser ser transferido para outro local, o Prático precisa começar um novo processo seletivo do zero. Isso é uma forma de garantir que todos os Práticos sejam experts em suas zonas de atuação”, destaca Hercules.
Muito Além da Segurança do Meio Ambiente
A atuação da Praticagem em todo o Brasil também tem estrita relação com a segurança da vida humana no litoral, e não apenas do meio ambiente. Por ser a única instituição atuante nos portos que possui lanchas de prontidão 24 horas por dia, 365 dias por ano, os Serviços de Praticagem são muitas vezes acionados para realizar resgates em situações de emergência, ou para compor a rede de informações que ajuda a salvar vidas. Apesar de serem raros os acidentes fatais no seu dia a dia, Práticos com frequência contribuem para salvamento de náufragos – como aconteceu em fevereiro de 2017, na Baía de Guanabara, no Rio, quando dez pescadores foram resgatados por uma lancha da Praticagem. Como se vê, os benefícios da Praticagem e de toda a estrutura atrelada à atividade vão muito além da movimentação de cargas e passageiros.
Desastre Evitado: O Caso de Nelcy Campos
Um grande exemplo da ação dos Práticos brasileiros para a proteção do meio ambiente aconteceu no Recife, em 12 de maio de 1985. Na madrugada daquela noite, um dos tanque do petroleiro “Jatobá” explodiu. A embarcação estava atracada no Parque de Tancagem do Brum, que guardava nada menos que 153 mil metros cúbicos de combustíveis. Técnicos estimaram que, caso o incêndio atingisse o Parque, as explosões em cadeia iriam destruir tudo num raio de cinco quilômetros, incluindo bairros residenciais e a residência do Governador. O navio precisava ser removido do cais imediatamente.
O Prático Nelcy Campos foi chamado no meio da madrugada para remover o barco em chamas do porto, uma tarefa que precisava ser feita em várias partes. Primeiro, Nelcy removeu os demais navios ao redor do “Jatobá”, para abrir o caminho. Ainda sob o risco do restante do navio explodir, o Prático usou um rebocador para conduzir pessoalmente a embarcação em chamas até a saída mais próxima, manobrando em um canal pouco usado que tinha linha direta até o oceano. No mar, o “Jatobá” continuou queimando a uma distância segura por mais 16 horas.
“Nunca me vi em situação tão difícil e perigosa. Mas pensei na população. Mesmo sabendo que poderia morrer, parti para a operação”, declarou Nelcy na ocasião.
Após o sucesso da empreitada de risco, o Prático foi aclamado como herói pela população, e é homenageado até hoje na forma de um busto, inaugurado em 2003, e da Regata Prático Nelcy Campos, que ocorre periodicamente na região.
Riscos da Navegação Costeira: O Derramamento do Exxon Valdez
Apesar da Praticagem evitar acidentes no mundo todo diariamente, alguns eventos emblemáticos ainda revelam o verdadeiro risco de uma navegação costeira mal feita. É o caso o Derramamento de Óleo do Exxon Valdez, um incidente que mudou para sempre a forma como o mundo encara desastres ambientais no oceano.
Exxon Valdez foi um navio petroleiro que ficou famoso em 24 de março de 1989 quando, devido a uma série de erros humanos, encalhou na Enseada do Príncipe Guilherme, na costa do Alasca. A colisão com as rochas submersas rasgou o casco cheio de petróleo da embarcação, que começou a vazar: entre 257.000 a 750.000 barris de óleo foram jogados no mar em pouquíssimo tempo.
Centenas de milhares de animais morreram em consequência do vazamento, incluindo pássaros, lontras, baleias, e, especialmente, ovos de salmão. O ecossistema e a economia local foram devastados. A falta de acesso à região dificultou a ação de limpeza, e estima-se que apenas 10% do óleo foi removido. O prejuízo econômico total foi da ordem de bilhões de dólares e as consequências do incidente continuam sendo estudadas até hoje, 30 anos depois.
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