Passei na quarta tentativa. E valeu a pena.
Entrevistas como essa são muito importantes para entendermos o que significa uma determinação inabalável. Na quinta edição da nossa série Entrevista com o Prático, tivemos o prazer de conversar com o Prático Guido Botto, da ZP 14, sobre a trajetória dele até passar no concurso e entrar na profissão. Confira!
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Transcrição da entrevista com Prático Guido Botto
Entrevistador – Primeiro, fala para a gente: qual é o seu nome e qual é a Zona de Praticagem que você trabalha?
Guido – Meu nome é Guido Botto de Barros, o pessoal me conhece como Botto. Eu trabalho na ZP-14, em Vitória/ES.
Entrevistador – Guido, como você ouviu falar sobre a Praticagem?
Guido – Eu trabalhava na Marinha e sabia que existia, mas nunca dei tanta atenção. Estava em um momento na minha carreira em que estava procurando uma coisa melhor para fazer. Senti que eu tinha um potencial e que poderia conseguir uma coisa melhor. Então, eu tinha decidido fazer um concurso público. Quando eu estava nesse processo de escolher um concurso, participei de um evento e estava conversando com uns amigos sobre isso e um deles falou sobre a Praticagem, me explicou um pouco como funcionava.
Entrevistador – Você conhecia alguém da área então?
Guido – Não, não. Eu não conhecia ninguém na área. Esse amigo era um colega de turma e ele só conhecia um pouco mais, mas estava que nem eu. Ele não conhecia nenhum Prático, a gente não conhecia ninguém que efetivamente trabalhasse. Eu vim conhecer só depois durante a preparação, que eu acabei conhecendo alguns Práticos.
Entrevistador – E como é que foi essa decisão de se tornar Prático?
Guido – Então, eu estava com esse meu amigo nesse evento, ele falou sobre a Praticagem e aí eu voltei para minha sala, continuei minha preparação para o concurso, imprimi o edital. Ele entrou na minha sala, com um livro na mão e colocou na minha mesa. Ele disse: Olha, abriu o edital para a Praticagem, que eu estava te falando, lembra? Vamos estudar? Aí que eu comecei a pesquisar melhor, entender como era o trabalho. E eu falei, poxa, meu pai me ensinou a velejar muito cedo, eu sempre tive uma vida ligada ao mar, né? E, eu era da Marinha, veleja muito e falei: por que não? O Prático carrega a essência do marinheiro. Movimentar aqueles navios todos e fazer a manobra com segurança, tem que ser um marinheiro de verdade. Então, eu falei: por que não? Por que não fazer? Achei super interessante. Eu falo inglês, então inglês não seria um problema. Eu tinha me formado também em engenheiro. A parte de exatas também não seria um problema. Então eu falei: Tá! Esse concurso está interessante. E sobre a carreira, eu falei: é uma carreira bacana, uma vida bacana. Então, a decisão foi nesse momento. Que esse meu amigo entrou na minha sala, começou a conversar comigo e deixei o outro edital de lado e falei: Não, vamos lá! Vamos estudar para a Praticagem.
Entrevistador – E aí você dedicou atenção integral para a Praticagem?
Guido – Isso! Como tinha acabado de abrir o edital e eu tinha ali um horizonte de três meses para estudar, comecei a me dedicar e todo o meu tempo livre foi para estudar. O concurso era só para a ZP-01, lá para Fazendinha, e tinha muito tempo que não tinha concurso. Então eu falei: Vamos lá! Fiz a preparação toda, me dediquei durante esses três meses para estudar, e estava confiante. Fui para a prova confiante.
Entrevistador – E como foi sua preparação? Você se preparou sozinho?
Guido – Então, eu me ajuntei com esse meu amigo que me ajudou a tomar a decisão e começamos a estudar juntos. Aí a preparação foi como sempre fiz com concurso: Lia a matéria toda, fazia o resumo, e no final tentava fazer uma revisão antes da prova para chegar preparado. Eu deixava as questões (que eu tinha questões para fazer) no final para dar aquela polida final e tal. E aí o que aconteceu: eu fui para Belém, fiz a prova e estava confiante. Mas tinham 42 vagas e eu fiquei em 72º. Não passei. Aí, falei: Não! Foi porque tive pouco tempo para estudar, então, vou continuar já. Não passei, não vou deixar isso me abalar, vou em frente. Então continuei. Comecei a estudar de novo, li toda matéria de novo. Basicamente, minha preparação sempre foi essa: ler a matéria inteira, fazer revisão e tentar fazer um sprint final antes da prova para chegar preparado.
De 2006 para 2008, eu tive uma mudança, fui transferido para São Paulo, então a preparação não foi tão forte nesse momento, e não tinha nenhum edital. Então eu estava em um estudo mais tranquilo, entendia a matéria lendo os conceitos e tudo mais. Abriu o edital, eu aumentei o meu ritmo de estudos e tinham 118 vagas. Então, falei: é essa prova, vamos lá. Eles (DPC/Marinha do Brasil) só tinham preenchido as necessidades da ZP-01. Então agora seria para preencher as necessidades das outras ZP’s. Me juntei com outro amigo também. Acho que isso é bacana, não ficar estudando sozinho. Trocar experiências com uma outra pessoa que esteja mais ou menos no mesmo ritmo que você, isso foi bacana. Mas, dessa vez, nesse segundo concurso, de 118 eu fiquei lá por volta dos duzentos e pouco. Também não passei. Tomei um baque. Levei meu segundo baque. Mas aí eu falei: bom, vamos lá, vamos estudar. Não foi, mas eu poderia ter estudado mais. Vamos lá, vamos recomeçar tudo. Aí abriu o edital novamente, mesmo roteiro, mas eu já tinha dois concursos de histórico. Então eu estava mais confiante ainda. E foi, estudei, e passei na prova escrita. Foi uma alegria e tudo mais. Mas eu não passei na prova oral, a prova prático-oral. Foi aí que eu conheci o Curso H.
Como não tinha nenhuma ideia de como era a prova prático-oral, fiz o Curso H e foi muito bom. Conheci um monte de gente e vi que eu realmente não sabia nada sobre a Praticagem, não tinha ideia. Eu só achava que conhecia alguma coisa. Então, o Curso H nesse momento foi muito bom para mim, para a preparação da prova prático-oral. Fiz o simulador em Seattle (Estados Unidos) e também foi muito bacana. Mas, infelizmente, eu estava em 115º na prova escrita e tinham 80 vagas. E, depois da prova prático-oral, eu só consegui ficar em 105º. Então, dessa vez também, eu não consegui. E, nesse momento, tomei um baque. Eu era muito convencido. Sempre fui bem em prova, gostava de estudar e aquele momento me abalou bastante. Minha esposa fala até que eu entre em depressão nesse período e, então, ela falou para mim: olha, você tem que decidir o que vai fazer. Você não pode ficar desse jeito. Por que você não faz o Curso H? O curso inteiro, do início… Aí eu falei: Poxa, mas o Hercules tem a mesma preparação que eu. Ele era da Marinha e tudo mais. Mas aí ela falou: mas ele foi o primeiro. Tem alguma coisa para te dizer. Então eu tomei a decisão e me matriculei no Curso H.
Cheguei na sala do curso no primeiro dia, aquela sala lotada, mais de 120 pessoas. Todo mundo estudando, motivados. E naquele momento eu tomei a decisão. E as primeiras aulas do curso são muito motivantes. Então, eu falei: não, agora vai. Não quero saber, essa é a minha vez. E todo mundo falava: mas não tem nenhum concurso. Já teve dois concursos grandes, agora vai ter a prova para 20 pessoas no máximo. Então, a decisão que eu tomei foi que eu teria que ser o primeiro. Não poderia pensar que ficaria no meio e passar. Eu tinha que ser o primeiro. E sem um concurso no horizonte, falei: esse ano eu vou ler a matéria inteira e fazer duas revisões. Quando chegar no final do ano vou estar pronto para o concurso. E, se não tiver concurso, penso e faço o planejamento. E eu já estava nesse ritmo estudando, gravei a matéria no celular e ficava no carro ouvindo. E São Paulo tem um monte de trânsito. Então, quanto mais trânsito, mais eu estudava. E foi um ano muito… me dediquei bastante. Chegava do trabalho e estudava. Final de semana não tinha folga, eu estudava o dia inteiro. Aos domingos, às vezes, a minha esposa conseguia me arrastar para um almoço de família. Mas, na maioria das vezes, eu fiquei em casa estudando e não tinha concurso. E aí, para minha surpresa, abriu um concurso com 200 vagas e eu estava no meio da revisão. Eu falei: É essa agora. Não quero saber. Aumentei o ritmo de estudos e, graças a Deus, foi dessa vez, na quarta vez, eu consegui a aprovação em uma Zona de Praticagem ótima. Minha preparação foi assim: quatro concursos, com altos e baixos, mas sempre lutando.
Entrevistador – E muita determinação. Como foi a sensação quando soube que tinha passado?
Guido – Poxa, foi indescritível. Foi indescritível. A sensação de passar na prova escrita já foi indescritível e, depois, quando eu fiquei sabendo, não dá para descrever. É uma sensação boa, toda aquela dedicação, toda aquela preparação dando certo é uma sensação maravilhosa. Foi muito bom, foi muito bom.
Entrevistador – Hoje, como Prático, a carreira era o que você esperava?
Guido – Cara, eu posso falar que é mais do que eu esperava. É mais do que eu esperava a carreira. Ela te exige. Você tem que se manter atualizado e tudo, mas é muito bacana. É uma carreira muito gratificante.
Entrevistador – E o que você mais gosta?
Guido – Essa sensação de você terminar a manobra e o comandante, que já é um profissional experiente, te agradecer por ter feito a manobra com segurança é muito bacana.
Entrevistador – Se você pudesse dar alguma dica para quem está começando a estudar agora e quer ser Práticos de Navios, qual seria seu conselho para os aspirantes?
Guido – Cara, acho que é se manter motivado. É não deixar nada te derrubar. Não desistir. Acho que esse é que é o conselho principal. É não desistir, entendeu? Não deixar nada te derrubar, nada te jogar para baixo, que todo esse esforço vai valer a pena. Então é se manter motivado, é não desistir, se manter motivado, que estudo com motivação rende muito mais do que você está ali achando que… Teve momento ali que eu não aguentava mais a matéria, o livro eu já conhecia e aquilo dava sono, então… Por isso que eu falo que o Curso H foi aquele diferencial, né? E me manteve motivado. Então, é não desistir, se manter motivado que depois vai valer a pena. Esse eu acho que é o principal conselho.
Entrevistador – Entendi. Tem mais alguma coisa que você acha que seria legal falar para quem está pensando em se tornar Prático?
Guido – Olha, é uma carreira muito bacana. Você tem que se dedicar sim, tem que se mantar atualizado. Quando você está na escala exige de você, mas é uma carreira que você consegue conciliar o trabalho com a vida familiar, com a vida pessoal. Então, é uma carreira que vale a pena e essa característica da escala, de você poder conciliar com a vida pessoal, dá para ter uma vida tranquila, uma vida estável, sem dor de cabeça, entendeu? Então, o conselho que eu dou é esse de você não desistir que vale a pena. O que eu posso dizer é isso. A carreira é bacana e todo esse esforço que está tendo agora na preparação, no final, vai valer a pena. Essa é a mensagem que eu deixo.
Entrevistador – Entendi. Poxa, Guido, muito obrigado pela entrevista!
Guido – Não, não. Obrigado vocês! Agradeço e aproveito de novo para agradecer ao Hercules, agradecer ao Curso H, que o Curso H foi a decisão que faltava para passar depois desse tempo todo, dessa preparação toda.
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